Produzido pela Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho (BAEC), do MST, o documentário “LGBT Sem Terra: O amor faz revolução”, foi lançado na quinta-feira (14) via transmissão ao vivo às 15h pelo programa Café com MST – Especial Quarentena Sem Terra. O lançamento marca os cinco anos do Coletivo LGBT Sem Terra. “Este documentário traz uma mensagem sincera e necessária sobre o amor, pois nestes tempos de ódio e perversidade, amar é um ato revolucionário”, ressalta Alessandro Mariano, do Coletivo LGBT Sem Terra.
Por Luciana Console/da Página do MST
Foto: Dowglas Silva
Para Maria Silva, membro da Brigada e integrante do Setor de Comunicação do MST, uma das mensagens do vídeo é mostrar que o MST não é um movimento que só luta pela terra e sim, pelas liberdades. “A construção da Reforma Agrária Popular, que é o que o MST defende, discute o ser humano em todos os aspectos. Não lutamos só pela terra, lutamos por questões fundamentais do ser humano, básicas, de sobrevivência”, explica a militante.
A proposta de representar a temática LGBT em um documentário foi uma demanda do próprio Coletivo no intuito de mostrar os avanços do Movimento em relação a essa questão. Por ser um movimento plural de trabalhadores, onde muitos são também religiosos, Alessandro conta que era muito difícil para um integrante se assumir LGBT dentro do MST.
“Muitos de nós LGBT, antes de 2015, tínhamos medo de sermos incompreendidas, pois havia a ideia de que trazer o debate da diversidade sexual era desviar a centralidade da luta política no Movimento, que tem como objetivo principal a luta pela terra”, diz ele.
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No entanto, de 2015 para cá, muita coisa mudou. O Coletivo foi responsável pelo reconhecimento das LGBT como sujeito político nas normas gerais do MST e diversos cursos de formação sobre o tema e rodas de conversa ocuparam o conjunto da organização.
Em 5 anos, Coletivo LGBT acumula grandes avanços
O marco para o surgimento do Coletivo LGBT foi o 1º Seminário “O MST e a Diversidade Sexual”, realizado entre os dias 7 e 9 de agosto de 2015 na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, São Paulo. Foi a primeira atividade nacional do movimento que reuniu lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais integrantes do MST. “A pauta da diversidade sexual e de gênero era um tabu e ficava à critério e compreensão de cada indivíduo, o que deixava brechas para posturas LGBTfóbicas por parte de alguns militantes”, explica Alessandro.
Desde o surgimento do Coletivo, o debate da diversidade sexual e de gênero foi agregado ao programa da Reforma Agrária Popular que, desde 2014, vem orientando o Movimento com novas formas de cuidado com a terra e o meio ambiente e também novas relações humanas. Além disso, em 2017 foi publicada a cartilha “O MST e a Diversidade Sexual: questões para debate”, que permitiu a ampliação da temática nos cursos de formação e encontros do MST.
Por fim, a aprovação do Coletivo como parte da estrutura organizativa do Movimento ocorreu em 2018. “O coletivo hoje tem a participação de mais de 300 militantes LGBTs que atuam nas diversas frentes, desde ocupação de terra e organização de assentamentos até tarefas de formação do Movimento”, destaca Alessandro.
Ao contrário do que se pensava sobre a temática desviar o foco da luta pela terra, a inclusão da questão LGBT no Movimento só trouxe benefícios. O aumento da participação das LGBT, que agora encontram acolhimento e espaços seguros para sua atuação na militância, fortaleceu o MST.
No entanto, no atual momento brasileiro de retrocessos no campo social, aliado à pandemia da COVID-19, é preciso fortalecer as redes de solidariedade, com doações de alimentos e mais espaços de acolhimento, para garantir que as LGBT sobrevivam.
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É o que ressalta Alessandro, que concorda que o isolamento é necessário para diminuir a contaminação, mas lembra que para muitas LGBT, ficar em casa significa exposição à violência familiar e depressão. Neste sentido, Alessandro faz críticas ao governo Bolsonaro.
“Temos clareza que o impeachment deste governo é necessário para enfrentar a pandemia, mas também para manter os direitos da classe trabalhadora e retomar as políticas públicas de saúde e educação para a população em geral e para as LGBT que este governo tem perseguido”, finaliza ele.
Audiovisual como ferramenta de luta
A tarefa de trazer para as telas a trajetória do Coletivo LGBT Sem Terra ficou nas mãos da Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho (BAEC), que vem atuando dentro do Movimento desde 2007, antes sob o nome de Brigada de Audiovisual da Via Campesina. Neste mesmo ano, o MST se desafia e constrói o primeiro vídeo feito por completo por militantes da Via Campesina, o “Lutar Sempre! – 5º Congresso Nacional do MST”.
A BAEC, como é conhecida hoje, surgiu com este nome em 2014, durante o 6º Congresso Nacional do MST. O novo nome foi em homenagem ao grande cineasta Eduardo Coutinho, falecido naquele mesmo ano.
“Em 2014, foi também a primeira vez que conseguimos nos organizar previamente para a construção de um vídeo do Congresso, porque anteriormente a gente ainda estava descobrindo as coisas, aprendendo na marra que precisava dessa organização anterior mesmo”, explica Maria.
A militante conta que uma das primeiras experiências do Movimento ligados ao audiovisual foi com a organização Solidariedade Suécia-América Latina (SAL), entre os anos de 2004 e 2008, quando tiveram acesso aos meios de produção audiovisual. “Haviam intercâmbios de estudantes suecos que ficavam 5 meses no Brasil, fazendo oficinas e conhecendo a experiência do MST. Ao final, eles sempre deixavam equipamentos, que era pra gente seguir com o trabalho começado em parceria”.
Desde então, outras atividades foram se somando às experiências do MST, como foi o caso do projeto Cinema na Terra, que tinha como objetivo a criação de espaços de exibição e debates sobre cinema em acampamentos, assentamentos, centros de formação, reuniões e encontros.
“Fizemos projeções durante as noites da Marcha Nacional de 2005, que foi a primeira experiência do Cinema na Terra”, conta ela, que também destaca outro momento importante na trajetória audiovisual: o curso de Comunicação e Cultura, realizado na ENFF entre os anos de 2006 e 2008.
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Dentre outros pontos, neste curso se iniciou algumas discussões sobre as linguagens fílmicas das produções, tanto aquelas realizadas pela própria Brigada, quanto por parceiros. “Foi um momento importante de avanço nas análises fílmicas. É um desafio de pensar a linguagem dentro do Movimento e na tentativa de construir a narrativa que seja própria da organização e dialogue para dentro e fora”, explica Maria.
Ela também ressalta a importância das produções da Brigada em outros momentos, como o da mobilização do “8 de Março”, Dia Internacional de Luta das Mulheres, de 2015, quando o Jornal Nacional iniciou a edição daquele dia com imagens produzidas pela BAEC. “A gente percebeu a importância de nós mesmos produzirmos determinadas imagens, a partir do nosso olhar e das nossas discussões”, destaca.
O lançamento do “LGBT Sem Terra: O amor faz revolução” vai contar com a participação de Ruth Venceremos, drag queen do Distrito Drag, e Alessandro Mariano, ambos do Coletivo LGBT do MST, além da cantora feminista e artista pernambucana Doralyce e também de Bruna Benevides, da diretoria da ANTRA e ABGLT. A transmissão vai estar disponível em todas as redes sociais do MST.
Confira o documentário:
*Editado por Wesley Lima
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