A denúncia foi realizada por Adriano Karipuna, durante a 21ª Sessão do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas, em Nova York
Pela quarta vez, Adriano Karipuna, liderança do povo Karipuna, se dirige ao Fórum Permanente das Nações Unidas para as Questões Indígenas (UNPFII), para denunciar a invasão do território tradicional e genocídio dos povos originários no Brasil. “Venho ao Fórum Permanente da ONU [Organização das Nações Unidas] para denunciar o Estado brasileiro por invadir nosso território indígena Karipuna”, destacou a liderança Karipuna, em declaração escrita e entregue à 21ª sessão do UNPFII, na quinta-feira, 28 de abril, em Nova York/USA, onde ocorre o evento.
Ao Fórum, Adriano também denuncia que “desde 2017, a terra indígena Karipuna vive sob ataques de invasores que desmatam e tiram toda a riqueza de nossa terra e também ameaçam nossa integridade física, cultural e territorial”.
“A TT Karipuna vive sob ataques de invasores que desmatam e tiram toda a riqueza de nossa terra e também ameaçam nossa integridade física, cultural e territorial”
A denúncia vai de encontro ao monitoramento feito pelos indígenas, pelo Greenpeace Brasil e pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na Terra Indígena (TI) Karipuna, no qual identificou uma nova frente de desmatamento naquela região. Numa incursão a campo, realizada no segundo semestre de 2021, foram encontrados novos 850 hectares de desmatamento ilegal no interior da TI, revelando um aumento de 44% em relação ao ano anterior.
A pecuária, com a produção de carne, e o agronegócio, com avanço da soja, são apontados como os principais responsáveis pela pressão sobre as florestas e os povos que vivem nela e dela. Por diversas vezes, a invasão do território tem sido denunciada pelos indígenas, tanto no Brasil como nos espaços da ONU. Os Karipuna alertam para a ação organizada dos invasores: “estamos sofrendo ameaças de morte do crime organizado”, destaca Adriano.
“Estamos sofrendo ameaças de morte do crime organizado”
Na avaliação dos povos originários e das organizações de apoio à causa indígena, as invasões aumentaram, especialmente, “com o discurso do governo brasileiro de facilitar a mineração e os projetos de lei [PLs] 191/2020 e o 490/2007, assim como, outros projetos criminosos que ameaçam os direitos dos povos garantidos pela Constituição”, listou.
Os projetos e medidas administrativas, listados por Adriano, buscam liberar a exploração econômica dos territórios indígenas, como as Instruções Normativas (IN) 09/2020, da Funai, e a 01/2021, publicada conjuntamente entre Funai e Ibama, e o Projeto de Lei (PL) 191/2020, de autoria do governo Bolsonaro.
Preocupados, “temos medo de sermos assassinados a qualquer momento em nossa própria casa e deixar de existir como povo”, denunciou à ONU a liderança Karipuna, em maio de 2021. Em seguida, o povo processou a União, Funai e o estado de Rondônia por invasões e pela devastação da terra indígena. Em dezembro, do mesmo ano, a situação continuou a se repetir: novos episódios de invasão de madeireiros e pecuaristas, roubo de madeira e grilagem de terra na TI Karipuna, já demarcada, foram denunciados pelos indígenas ao Ministério Público Federal (MPF) e à Policia Federal (PF).
Frente às denúncias, ao concluir sua contribuição nesta edição do Fórum Permanente, Adriano apelou: “estamos pedindo socorro, nos ajudem!”.
“Temos medo de sermos assassinados a qualquer momento em nossa própria casa e deixar de existir como povo”
Sobre o UNPFII 21
Com o tema “Povos indígenas, negócios, autonomia e os princípios de direitos humanos da devida diligência, incluindo o consentimento livre, prévio e informado”, a 21ª sessão do Fórum Permanente das Nações Unidas para as Questões Indígenas (UNPFII 21), ocorre na sede do órgão em Nova York, Estados Unidos, de 25 de abril a 6 de maio de 2022.
Esta edição de 2022 é aberta à participação presencial e online, com transmissão ao vivo pelos canais oficiais (webtv.un.org). As lideranças e organizações sociais têm contribuído com o evento tanto presencial como por meio de videoconferência.
A Aty Guasu Kaiowá e Guarani, a Associação do Povo Karipuna, a Organização de Mulheres Indígenas Mura de Autazes/AM, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Rede Iglesias e Minería e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) retornam ao espaço para denunciar a política anti-indígena do atual governo brasileiro.
“Com o discurso do governo brasileiro de facilitar a mineração e os PLs 191 e o 490 ameaçam os direitos dos povos garantidos pFela Constituição”
Confira a denúncia de Adriano Karipuna na íntegra:
Meu nome é Adriano Karipuna, liderança do povo indígena Karipuna, de Rondônia, Brasil.
É pela quarta (4ª) vez que venho ao Fórum Permanente da ONU para denunciar o Estado brasileiro por invadir nosso território indígena Karipuna. Desde 2017, a terra indígena Karipuna vive sob ataques de invasores que desmatam e tiram toda a riqueza de nossa terra e também, ameaçam nossa integridade física, cultural e territorial. Nós, do povo Karipuna, temos feito inúmeras denúncias no Brasil e na ONU, denunciando esse crime organizado.
Estamos sofrendo ameaças de morte do crime organizado. As invasões aumentaram com o discurso do governo brasileiro de facilitar a mineração e os projetos de lei [PLs] 191/2020 e o 490/2007, assim como outros projetos criminosos que ameaçam os direitos dos povos garantidos pela Constituição.
Temos medo de sermos assassinados a qualquer momento em nossa própria casa e deixar de existir como povo. Estamos pedindo socorro, nos ajudem!
Muito obrigado.
Imagem capa: Adriano Karipuna no Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas, em 2018. Foto: Luiz Roberto Lima
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