Solução tecnológica objetiva a preservação do meio ambiente, com a destinação adequada e a reciclagem do uso dos macronutrientes
Um estudo comprova que o efluente de esgoto, tratado gerado na fossa séptica biodigestor, é um biofertilizante que pode substituir a aplicação do nitrogênio sintético na adubação de pequenas lavouras de produtores rurais. O adubo orgânico, como assim é popularmente conhecido, está sendo utilizado em um projeto modelo executado na região sul do Tocantins pela Universidade de Gurupi (UnirG) e conta com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma parceria dos Governos Federal e estadual pelo Governo do Tocantins, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt).
O estudo coordenado pela docente da Unirg, mestre e doutoranda em Produção Vegetal, Miréia Aparecida, implantou mecanismos sustentáveis e viáveis no Assentamento Vale Verde, no município de Gurupi. No decorrer da pesquisa, houve a colaboração de diversos pesquisadores, acadêmicos de iniciação científica das áreas de Agronomia, Farmácia e Enfermagem; do mestrado e doutorado em Biodiversidade, Produção Vegetal, Solos, Ciência dos Alimentos, Ciências Biológicas, Biotecnologia e Microbiologia.
Em virtude da falta de acesso ao saneamento no meio rural, uma alternativa utilizada é a fossa séptica biodigestora, que evita o lançamento dos dejetos no meio ambiente ou em lugares onde as residências não possuem um sistema de saneamento básico. Com a construção da fossa, é possível impedir que os dejetos sejam jogados em locais como rios, córregos e solo. Esse tipo de tratamento permite a redução de casos de doenças oriundas de bactérias de águas contaminadas.
“Além de alternativa ao fertilizante sintético, o uso do adubo orgânico gerado pelo sistema de saneamento básico rural visa à preservação do meio ambiente com a destinação adequada e a reciclagem do uso dos macronutrientes: nitrogênio, fósforo e potássio [NPK], além de melhorar a qualidade do solo e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. A tecnologia traz soluções importantes para o pequeno produtor: gera adubo orgânico para a lavoura e proporciona saneamento rural adequado às propriedades rurais que não possuem”, explica o engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia/Melhoramento de Plantas e atual presidente da Fapt, Márcio Silveira.
A produtora rural Valdina Ramos é uma das beneficiadas pelo sistema de esgoto biogestor e fala sobre a importância da inovação em sua propriedade. “O uso do efluente da fossa séptica tem sido bem-vinda, trata-se de um adubo de primeira qualidade para o solo, o que ajuda na produção de hortaliças e frutas e ainda nos proporciona uma fonte de renda extra para a nossa família”, destaca.
Convênio Estruturante
O estudo científico da fossa séptica é fruto do apoio financeiro dos Governos federal e estadual, por meio da Fapt, que proporcionou toda a estrutura necessária em equipamentos que auxiliaram os pesquisadores durante todo o processo, tanto dos laboratórios da Unirg como da Universidade Federal do Tocantins (UFT), câmpus Gurupi. Por meio do convênio Estruturante, foi possível disponibilizar veículos, computadores, materiais para produção de mudas e construção de fossa séptica, serviço de inventário de plantas medicinais, entre outros equipamentos que estão na Unirg. Já a UFT ficou responsável pela casa de vegetação climática de plástico, lupas estereoscópicas, estufa com renovação e circulação de ar e outros materiais. O projeto tem dez anos de existência e é tido como modelo.
“O projeto tem se consolidado através da melhoria da infraestrutura proporcionada pelo convênio, da formação de recursos humanos e transferência de tecnologia para os agricultores, o que representa a promoção da preservação da biodiversidade. Sem o apoio do convênio, não seria possível a implantação da inovação nessa comunidade modelo, o que pode também ser utilizada em outras áreas rurais e assim fortalecer a agricultura familiar com geração de produto de qualidade e fonte de renda para as famílias”, ressaltou a pesquisadora Miréia Aparecida.
O que é fossa séptica biodigestora
É uma solução tecnológica de fácil instalação e custo acessível, trata-se do esgoto do vaso sanitário (urina e fezes humanas), que através da produção de efluente pode ser usado no solo como fertilizante (adubo orgânico) para plantas. A inovação não gera odores desagradáveis, não procria ratos, moscas, baratas e evita a contaminação do lençol freático. O sistema básico, dimensionado para uma residência com até cinco moradores, é composto por três caixas de mil litros, tubos, conexões, válvulas e registros.
A tubulação do vaso sanitário é desviada para essa fossa, onde o esgoto doméstico, com o auxílio de um pouco de esterco bovino fresco, é tratado e transformado em adubo orgânico pelo processo de biodigestão anaeróbia. O adubo deve ser aplicado diretamente no solo e não deve ser usado em alimentos que são consumidos crus, como hortaliças, por exemplo. Essa tecnologia é muito utilizada também pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Fonte: por Geórgya Laranjeira Corrêa e Stefani Cavalcante/Secom-TO.
Edição: Lenna Borges – Revisão Textual: Marynne Juliate
Legenda Capa:
Agricultora Valdina Ramos declara a satisfação de receber o apoio científico em sua propriedade através da visita da professora Mireia Aparecida (direita) – Foto: Divulgação Unirg
A pesquisa revela a importância da estruturação do laboratório através do convênio Estruturante – Gilson Araújo de Freitas
A pesquisadora Mireia (esquerda) ensina aos acadêmicos de forma prática o manejo adequado de condução do projeto em visita de campo – Divulgação Unirg
O projeto conta com a participação de alunos da Unirg que vivenciam de forma prática o desenvolvimento do estudo – Divulgação Unirg
O projeto conta com a participação de alunos da Unirg que vivenciam de forma prática o desenvolvimento do estudo – Divulgação Unirg
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