O combate está sendo feito por seis brigadas do PrevFogo em uma linha com cerca de 50 km de queimada
Imagem realizada durante sobrevoo ocorrido na Terra Indígena Arariboia. Crédito da foto: Povo Guajajara
POR RENATO SANTANA, DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO – CIMI
Dias após o assassinato de Paulo Paulino Guajajara e da tentativa de homicídio de Laércio Souza Silva Guajajara, durante emboscada ocorrida na sexta-feira (1), as brigadas de incêndio da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, travam dura batalha contra queimada de grande proporção na região das aldeias Zutiwa e Abraão. Este já é o segundo registro de incêndio no ano.
Desta vez, se trata de uma linha com quase 50 km de extensão de fogo, conforme medição feita durante sobrevoo realizado com o apoio do governo estadual, que avança há cerca de 15 dias pela porção oeste da Terra Indígena indo de encontro ao território de perambulação do povo Awá-Guajá em situação de isolamento voluntário.
O combate está sendo feito por seis brigadas do PrevFogo, treinadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Duas destas brigadas são da própria Arariboia, das aldeias Jussaral e Zutiwa. Outras três se deslocaram das Terras Indígenas Governador, Krikati e Kanela sendo a sexta uma brigada especializada do município de Grajaú. São cerca de 60 indígenas e não indígenas se revezando em turnos. Por serem poucos, a exaustão se tornou uma inimiga do trabalho de contenção do incêndio.
A mobilização, porém, ainda é insuficiente para derrotar. “Não vem tendo muito resultado. Tá distante o fogo e o caminho de acesso é muito complicado. Tem dias que eles vão a pé, mas quando chegam no fogo é tarde demais. Precisaria de aeronaves, mais equipamentos. Já está distante, muito dentro da floresta, não tem como fazer por via terrestre”, explica Zezico Guajajara, liderança da aldeia Zutiwa.
Coordenadas mostram que o fogo está próximos às aldeias e avançando sobre território Awá-Guajá
O Guajajara fala também sobre a dificuldade com alimentação. “Os homens trabalham de forma intensa. A alimentação levada para a frente de combate, às vezes, é água e farinha. Então falta esse apoio de alimentação e transporte. Muitos dias trabalhando com fogo não é para qualquer um, é muito desgastante”, diz. O Ibama recomenda para o combate apenas pessoal treinado e preparado.
Nos últimos quatro anos, três incêndios de grandes proporções ocorreram na Arariboia – contando com este que segue em curso de devastação. O de 2015 queimou mais da metade da Terra Indígena de 413.288 hectares. O fogo deste ano se enquadra em um alarmante contexto: entre janeiro e agosto de 2019 houve um aumento de 88% em focos de incêndio nas terras indígenas do Brasil, se comparado com o mesmo período de 2018.
Coincidência ou não, o fluxo de invasores às Terras Indígenas entre janeiro e setembro de 2019, conforme o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do Conselho indigenista Missionário (Cimi), contabilizou 160 casos de invasão a 153 terras indígenas de 19 estados, entre elas a Terra Indígena Arariboia. Um recorde se comparado com os anos anteriores a partir dos dados sistematizados pelo relatório.
Awá-Guajá em situação de isolamento
Uma das preocupações de Zezico Guajajara envolve os Awá-Guajá isolados. “A região deles está sendo toda destruída, todo queimado, que é a região de circulação deles, onde caçam, tiram mel, dormem, onde fazem as atividades diárias deles. Tá sendo consumido pelo fogo. Estamos tentando combater para que não se alastre mais dentro”, explica.
A recuperação da floresta, por outro lado, leva anos. O Guajajara questiona como fica a vida dos Awá-Guajá depois do fogo apagar. “É o que eles têm. A mata fica em cinzas, sem animais, sem árvores, sem nada. Como eles vão sobreviver?”. Soma-se a isso o fato de que nos últimos anos a Terra Indígena foi bastante castigada por incêndios, sendo um deles declarado oficialmente pelo Ibama como de origem criminosa. Os Awá também convivem com os invasores habituais: os madeireiros.
Brigadistas encontram animais mortos sobre as cinzas de uma floresta castigada pelo fogo. Crédito da foto: Povo Guajajara
“Avistamos os vestígios deles, as coisas que eles deixam quando correm, mas com esse fogo fica bem difícil. Mesmo assim eles não querem contato. Sabemos que eles nos avistam, mas não deixam que a gente os aviste. Não querem o contato e vamos lutar para que o fogo não destrua completamente tudo o que eles têm”, declara o Guajajara salientando que este é o principal foco no momento.
O fogo está a 20 km da aldeia Zutiwa, mas “são várias aldeias. O fogo está mais perto da aldeia Buritiana, bem próximo. Agora lá nós podemos controlar, então preocupa, mas não tanto. Awá é caso mais sério. Outra coisa que a gente tá pensando é na linha dos 50 km, que nos preocupa mais. Essa linha fica paralela às aldeias partindo da Zutiwa até a rodovia MA-006”, analisa Zezico Guajajara.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Cimi
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