Constantes ameaças, com ocorrência de incêndios criminosos, têm atemorizado as famílias do Lote 96, Gleba Bacajá, no município de Anapu (PA). A equipe da CPT na região denuncia a situação de violência praticada contra a comunidade durante a pandemia.
Texto: Equipe-CPT Anapu
Foto: Arquivo-Thomas Bauer
A Comissão Pastoral da Terra, equipe de de Anapu (CPT-PA) denuncia ameaças e violências constantes e destrutivas que vêm acontecendo e aumentando no Lote 96, Gleba Bacajá. Moram e trabalham no lote em questão 54 famílias, algumas delas estão no local há mais de 10 anos. Processo na Vara Agrária de Altamira ainda discute se esta terra é das 54 famílias que moram e trabalham no lote ou de Antônio Borges Peixoto, que se diz proprietário.
As violências que vêm acontecendo neste lote 96 são muitas, mas o que preocupa no momento é que estão chegando perto de realmente ameaçar a vida das famílias que estão no lote. Em 05 de outubro de 2020, pela manhã, a casa do senhor José Pereira de Oliveira foi queimada. A família não estava presente no momento, mas quando José chegou ao local, durante o incêndio, viu também um homem montado deixando a área. Este homem seria vaqueiro do senhor Antônio Borges Peixoto.
Novamente, em janeiro de 2021, a casa do casal Lucival Fernandes da Silva e Ronieli da Conceição Brito foi incendiada. Eles têm um filho de dois anos de idade. A família, no entanto, não estava presente no momento do incêndio, e não viu os que incendiaram a casa. A família mora e trabalha na posse, beirando a cancela do senhor Antônio Borges Peixoto.
No dia 13 de fevereiro de 2021 apareceram dois homens, Henrique e Leomar, na mesma área da família de Ronieli e Lucival, ameaçando e ostentando armas de fogo dizendo que a área era deles e que a família tinha que sair. Ronieli estava sozinho no momento com o filho e defendeu sua casa e direito até que os os homens deixassem a área. Os homens seriam ligados ao pretenso proprietário, Antônio Borges Peixoto. O caso terminou com a presença do delegado da DECA de Marabá que junto com a Defensora Pública recomendou a presença contínua da polícia na área, visitando e conversando com as famílias. Esta presença continua até hoje, sendo avaliada pelas famílias como uma segurança e presença positiva.
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Na noite de 26 de março de 2021 outro incêndio foi registrado, desta vez na área do senhor Lindoval Ferreira da Costa, às 23 horas. Lindoval vive e se sustenta da roça. Ele mora na área há 9 anos, onde é conhecido por todos. Durante dois anos, ele lutou para construir uma casa de farinha, seu produto de venda. Na noite em questão, Lindoval acordou repentinamente com um tiro e, abrindo a porta, viu sua casa de farinha em chamas. Custou dois anos para construir e uma hora para ser destruída. O incêndio ocorreu enquanto sua família dormia por perto. Lindoval não viu quem incendiou o local. Como ele tinha mandioca na prensa, precisava torrá-la no dia seguinte.
Em união e organizadas, as famílias do lote ajudaram Lindoval, que trabalhou na casa de farinha do vizinho. Diante desta situação que vem aguçando, até quando vai existir esta casa de farinha do vizinho?
A CPT, equipe de Anapu, denuncia a situação em que estas famílias têm que viver enquanto a justiça resolve o aspecto jurídico. Apreciamos e valorizamos o trabalho jurídico sendo feito, mas é necessário também olhar a situação de perigo em que as famílias estão colocadas. Os conflitos têm acontecido em plena pandemia, tempo de distanciamento social, sendo difícil o contato com as autoridades neste momento. Para as famílias da área rural, ainda mais difícil. Houve um esforço da parte da polícia, em oferecer uma segurança a mais, mas esta presença é esporádica e somente de dia. Incêndios são perigosos., principalmente os que ocorrem na parte da noite.
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Junto com as famílias do Lote 96, Gleba Bacajá, pedimos que seja feita uma investigação séria desta situação e que a investigação termine em uma ação concreta, defendendo os direitos das 54 famílias envolvidas. Tudo indica que não são as famílias que estão queimando as casas e ameaçando umas às outras. Na hora da aflição, a união e organização das famílias do lote seguram e protegem as mais ameaçadas. Enquanto a justiça não resolve a situação jurídica, as famílias têm o direito de morar, trabalhar e conviver na área sem ameaças e violência. Elas têm o direito de viver em paz.
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