A produção artesanal dos povos indígenas do Tocantins é rica, diversificada e se mistura ao cotidiano.
É uma das mais belas e significantes expressões da nossa arte tradicional. O povo Iny é excelente artesão de arte plumária (confecção de haretôs, colares, brincos, braçadeiras e tornozeleiras), cerâmicas (potes, pratos, tigelas e bonecas ornamentais – ritxòò) e cestaria, que serve para transporte e armazenamento de mantimentos.
O Xerente (Akwê), considerado o povo do traçado, utiliza a seda do buriti e o capim dourado para a confecção de cestaria, bolsas e enfeites com sementes do capim tiririca (capim navalha), mulungu e sabonete.
Os timbira se destacam com o trabalho de brincos e colares feitos de sementes nativas e do bambuzinho; utilizam nos adornos as cores básicas – vermelho e preto – e confeccionam cestos com palha de babaçu.
Os motivos dos adornos são representações do que existe na fauna, flora e no cotidiano.
Os conhecimentos tradicionais recebidos dos antepassados são transferidos para as gerações através da oralidade e da observação.
Os Povos Indígenas do Tocantins
O Tocantins apresenta uma população aproximada de 6.000 índios, que continua a crescer.
Vivem no estado os Xerente (povo Akwen), os Karajá, Javaé e Xambioá (povo Iny), os Apinajé (povo panhi) e os Krahô (povo Meri).
Esses povos têm uma cultura rica e uma história de luta pela sobrevivência e mantêm rituais e festas com uma forte ligação com o seu passado.
Uma contribuição fundamental para a percepção dos sentimentos antigos dos povos são os projetos de educação para formação de professores bilíngues.
No Tocantins, o Governo do Estado está qualificando professores das escolas nas aldeias, visando ensinar crianças e jovens a escrever e ler na própria língua, possibilitando o resgate da historia oral dos povos indígenas e a valorização de sua cultura e tradição.
Já são 61 escolas atendendo 2.269 alunas. Os povos indígenas do Tocantins têm uma organização social e politica própria que lhes sustenta, correspondendo a um processo de crescimento demográfico e a retomada de seus valores culturais, que constituem não somente para o Estado, mas para a humanidade, um patrimônio de diversidade.
O Povo Karajá, Javaé e Xambioá
O Povo Karajá – Momento do Ritual de Iniciação dos Meninos
Os Karajá, Javaé e Xambioá são o mesmo povo e se autodenominam Iny. Pertencem ao tronco linguístico Macro-Jê, família Karajá e língua Karajá.
Os três grupos falam a mesma língua e vieram migrando do Norte, baixo Araguaia, antes de 1500.
Mantiveram suas aldeias separadas em virtude da luta com o não-índio. Os Karajá são, sobretudo, pescadores e coletores, embora hoje também façam roças.
Segundo Darcy Ribeiro, estes índios migraram sempre, até chegar a Ilha do Bananal.
Lá vivem hoje 1.600 habitantes Karajá em oito aldeias, e 849 Javaé a margem do rio Javaé em nove aldeias.
Os Xambioá, conhecidos pelo seu povo como Hirarumarandu, ou “Karajá de baixo”, vivem hoje em duas aldeias, com uma populaςao de 182 pessoas, próximos as cidades de Santa Fé e Xambioá.
A festa do Hetoroky, ou iniciação do menino para a fase adulta, reúne famílias Karajá de aldeias distantes e é comemorada com danças, lutas e comida farta, mantendo uma forte ligação com suas origens.
Os Karajá tem tradição na arte de fazer cerâmica. As mulheres oleiras fazem figuras de animais, figuras míticas, representações do cotidiano e, principalmente, as bonecas ritxokô, vendidas como artesanato.
Aldeias Karajá: Santa Isabel do Morro, Fontoura, Tutemã;
Aldeias Javaé: Txuiri, Gantanã, Boto Velho, Wari Wari, São João, Cachoeirinha, Manalué , Barreira Branca, Imonti;
Aldeias Xambioá: Xambioá e Kurerê.
O Povo Xerente
Os Xerente se autodenominam Akwen, que significa “indivíduo”, “gente importante”.
Eles vieram, provavelmente, das terras secas do Nordeste até o Norte, onde encontraram abundancia de água.
Os primeiros contatos com os bandeirantes datam de 1738. Em 1840, os Xerente aceitaram o aldeamento de Teresa Cristina, atual Tocantínia, proposto pelo franciscano frei Antonio de Ganges.
Hoje, vivem na margem direita do rio Tocantins, numa área de 183.542 hectares (junto a área do Funil), próximos a cidade de Tocantínia.
Sua população é de 1.800 pessoas, distribuías em trinta e uma aldeias. Sua sobrevivência sempre veio da terra e do rio, da pesca, da caça e, principalmente, da roça de subsistência, a chamada “Roça de Toco“, onde plantam o milho, o arroz e a mandioca.
Produzem artesanato com palhas de babaçu. São cestas, balaios, esteiras, cofos, redes e bolsas.
Pertencem ao grupo lingüístico Macro-Jê e estão em contato com os não índios há aproximadamente duzentos anos.
Juntam tudo que aprenderam com as comunidades vizinhas e retomam suas vidas com consciência e respeito a sua história.
Em quase todas as festas, praticam a corrida de toras, onde homens e mulheres demonstram sua força e coragem.
Aldeias Xerente: Funil, Bela Vista, Cercadinha, Brejo Comprido, Serrinha I e II, Centro, Agua Fria, Rio do Sono, Mirasol, Recanta, Baixa Funda, Brejinha, Salto, Porteira, Aldeia Nava, Sangradouro, Lajeadinho, Cabeceira, Morrinho, Recanto da Água Fria, Novo Horizonte, ZéBrito, Aldeinha, Rio Preto, Bom Jardim, Paraío, Baixão, Traíra, Ponte, Mirasol Nova.
O Povo Krahô
Vive numa área demarcada de 302.533 hectares, próxima as cidades de Itacajáe Goiatins, em 15 aldeias e uma população de 1.500 pessoas.
A reserva onde vivem hoje é considerada a maior área de cerrados inteiramente preservada do Brasil.
Pertencem ao tronco lingüístico Macro-Jê, da família Jê, descendentes dos Timbiras setentrionais.
No final do século XVIII, habitavam a região do Rio Balsas no Maranhão. A aldeia de Pedro Afonso foi fundada em 1849 pelo missionário frei Rafael de Taggia.
Os Krahô sempre enfrentaram a pressão colonizadora. Em 1940, sofreram um violento massacre desfechado por criadores de gado, fato que continua vivo na memória de seus habitantes mais velhos.
Importante para o dia-a-dia da aldeia. Possuem muitas crenças, acreditam que todos os seres sejam animais, vegetais ou minerais, e têm alma, que chamam de Karõ.
Os Krahô negociam com os brancos como meio de promover sua sobrevivência na relação interétnica.
Assim, ganham os índios Krahô, as terras pertencem a todos da tribo. As aldeias são politicamente independentes, construídas em forma circular, com um grande pátio no centro, onde a tribo se reúne para decidir as divisões do trabalho e tudo que seja certa independência, e podem manter sua identidade, já que possuem terras.
A noite, os Krahô se reúnem para cantar, brincar e contar histórias. Apesar de enfrentarem inúmeras dificuldades em suas terras, eles conseguem manter suas tradições e cultura.
Aldeias Krahô: Rio Vermelho, Manoel Alves Pequeno, Cachoeira, Pedra Branca, Macaúba, Pedra Furada, Campos Lindos, Agua Branca, Riozinho, São Vidal, Morro do Boi, Serra Grande, Forno Velho, Santa Cruz e Lagoinha.
O Povo Apinayé
Os Apinajé pertencem ao tronco Macro-Jê, família Jê, descendentes do grupo Timbira, e vivem numa área demarcada, a partir de 1985, de 141.904 hectares, próximos aos municípios de Tocantinópolis, Maurilândia e Lagoa de São Bento.
Sua população atual é de 1.000 habitantes, distribuídos em sete aldeias. Os primeiros registros datam de 1774.
Eram conhecidos como grandes guerreiros, “os poderosos índios da região Norte“.
O confronto com os exploradores de ouro provocou doenças e guerras, obrigando os apinayé a viverem em aldeias para a sobrevivência da comunidade.
Hoje, eles têm suas aldeias localizadas no campo e utilizam a mata para a caça e a agricultura.
Fazem a coleta do babaçu, extraem o óleo das amêndoas e aproveitam as folhas para fabricar utensílios domésticos e cobrir suas casas.
Nas festas e rituais, mantêm o casamento e o batizado, realizados no verão, época da colheita.
Quando vão preparar as roças, percorrem uma longa distância, a procura de mata e terras para a plantação de milho e suas variedades.
Muitas vezes, fazem acampamento por lá e ficam durante vários dias com toda a família.
O trabalho é dividido. As mulheres trazem lenha, coletam frutos, cuidam das crianças e produzem artesanato; os homens caçam, pescam e trabalham na roça.
Aldeias Apinajé: São José, Mariazinha, Butica, Riachinho, Cocalinho e Bonito.
Textos extraídos de “Os Povos Indígenas do Tocantins”, Professora Lídia Soraya Liberato Barroso.
As Bonecas Ritxòkò
As bonecas Karajá “Ritxòkò” foram declaradas patrimônio cultural do Brasil em 2012 e são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias.
O artesanato, feito de cerâmica, é produzido pelas mulheres da comunidade da Ilha do Bananal e tem um valor cosmológico, sendo fundamental para transmitir a cultura do povo para as crianças.
É através da brincadeira com as bonecas que as meninas aprendem a ser Karajá, entram em contato os valores, as histórias e os mitos, da sua aldeia, do seu povo.
A confecção das Ritxòkò é uma atividade exclusiva das mulheres e envolve técnicas e modos de fazer considerados tradicionais e transmitidos de geração em geração.
A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais.
Artesanato de Buriti e Babaçu
Da palha do babaçu e do buriti, duas espécies de palmeiras comuns na região Norte do Brasil, surgem esteiras, chapéus, cestos e uma infinidade de produtos utilizados há muito tempo pelos indígenas e pelos sertanejos tocantinenses, mas que somente agora vem ganhando status de artesanato decorativo.
Das fibras, podem surgir as mais variadas peças. Como coadjuvantes de outras matérias-primas, servem para amarrar peças em capim dourado ou surgem como detalhes de produtos em madeira.
Largamente utilizadas pelos povos indígenas e difundidas em todo o Estado, as fibras demonstram toda sua versatilidade de acordo com os costumes de cada região.